sábado, 10 de março de 2012

O Preconceito...

Hoje na coluna Vida e Estilo da Zero Hora, tive a infelicidade de ler palavras que mascaradas sob uma simples crítica escondem um ódio que ainda nos dias de hoje permanece em nossa sociedade. O colunista J.J Camargo fez um verdadeiro manifesto contrário a tatuagem e aos tatuados, chamando-nos de modistas, inseguros, grotescos e sujos.

Isso, para que de uma forma singela, fazer a corriqueira pergunta de como será na velhice "ser tatuado". Pergunta essa que quem é tatuado já deve ter ouvido um milhão de vezes...(lembrando que ser tatuado é no mínimo ter tatuagens visíveis quando se está com as pernas ou os antebraços de fora). E que a resposta é tão singela como a pergunta... serei um velho com rugas coloridas ...

Ainda que eu não devesse, me surpreendo com esse tipo de manifesto, pois ver tamanhas bobagens divulgadas na mídia ainda me causa a certeza de que mídia honesta está em desuso, ou porque não vende, ou porque não da “ibope”.

Enfim, infelizmente também conheço os efeitos de que uma "ação" jornalística pode causar ...mas esse é outro assunto.

Voltando ao texto das tatuagens, me resta criticá-lo, pois, além de ser gramaticalmente pobre e ruim, expressa claro preconceito e apresenta-se completamente retrógrado!

Isso, pois as coisas estão mudando e a tatuagem deixou de ser sinônimo de crime para ser sinônimo de arte!

Há alguns anos, quando recebia a turnê da banda punk Dog Soldier, conheci Alaric, se aproximando dos seus 40 anos, que além de ser vocalista da tal banda, ex baixista da Defience, era médico em Portland, norte dos Estados Unidos, mesmo sendo completamente tatuado.

Eu, ainda jovem, perguntei para ele como era a relação dele lá com os pacientes, o hospital, etc., já que aqui o pessoal ainda nutria (ou nutre) esse preconceito.

Ele riu e me contou que o importante na profissão dele era salvar vidas, somente isso, já que especializado em urgências e emergências, especialidade que não existe aqui no Brasil, atuava diretamente nos plantões médicos, tal qual o seriado homônimo.

Anos depois, em visita ao estúdio do meu amigo Verani, outro exemplo que tive de um tatuado de sucesso.. rsrsrs... e que me encorajou a ser também tatuado, mesmo trabalhando em profissões ditas como FORMAIS, foi o presidente de um importante órgão de apoio as empresas, e que sem se identificar tirou o terno para mostrar seus mais novos desenhos.

Algumas semanas depois estava ele no Conversas Cruzadas, e foi quando pude saber de quem se tratava e qual era sua importância em algumas relações institucionais do estado de maior relevância econômica.

Hoje, sou advogado e se a modéstia me permitir, um dedicado advogado tributarista, ainda em início de carreira, ainda com muito o que aprender, mas apaixonado e dedicado ao que faço. Já não sinto no meu dia-a-dia nenhum tipo de contrariedade a ter a pele repleta de desenhos... Certo que trabalho com as minhas tatuagens sob o terno e a camisa... mas isso não para escondê-las, somente por formalidade da profissão e todos que me cercam sabem dos desenhos que possuo e de quanto eles são importantes para mim.

Em relação as tatuagens, o tempo me mostrou a lição machadiana mais importante... Ser é mais importante do que parecer ... e como advogado o mais importante está no que eu escrevo, defendo, sustento, e não no que só se aparenta sobre a minha pele!

Por óbvio que já sofri preconceito, em especial das famílias de algumas ex namoradas, ainda mais quando além de tatuado, era apenas um estudante, sem dinheiro, sem carro e sem um nome de família por trás para me dar ingresso nas altas rodas da sociedade porto alegrense... outros tempos.

Do preconceito, qualquer que seja, espero mesmo que um dia possamos apenas lê-lo nos livros de história, sem conseguir imaginar em uma sociedade desenvolvida a limitação mental de se julgar uma pessoa simplesmente pelo fato dela ser “diferente”.

O preconceito, repito, qualquer que seja ele, é lamentável e execrável, e se agora falamos das tatuagens, isso vale também ao preconceito de crença, cor, opção sexual.

Alimentar, nutrir ou acreditar nesse tipo de conduta é levantar a bandeira da ignorância, da intolerância e deixar claro para todos os demais, de que se é uma pessoa pequena, infeliz e indevidamente preocupada com os outros e como esses são.

Além de ser crime, está na pobreza de espírito de quem tem preconceitos o maior motivo para que todos os dias, de alguma forma, combatamos essa espécie de conduta!

Creio que nessa vida, na nossa breve passagem por esse plano, e que até então é o único plano certo que tempos de existência, o que realmente vale é ser feliz, celebrar o amor, celebrando a vida por ela só, pois a mágica está no simples fato de estarmos vivos!

E aos que perdem tempo "odiando" os outros, fica meu sentimento de pena e a dica de que passem a cuidar das suas próprias vidas, buscando a felicidade das suas próprias existências, e não perdendo tempo querendo questionar a felicidade e a existência dos outros.

Cumpre-nos lembrar que a felicidade é subjetiva, pessoal e muitas vezes indivisível ..rsrs ...e pode estar nas mais variadas formas, com os parceiros que tiverem, com o Deus que bem entenderem, e com a carga genética que carregarem.

Meus sinceros abraços a todos meus amigos que sabem que isso é a base do que acredito!

Rodolfo Waterloo Monteiro, um advogado, tatuado, ex-punk e indevidamente acusado por algo que jamais cometeria, cometeu ou acreditou.